A dor do parto é fisiológica e tem o propósito de avisar que o fruto esperado está a caminho, ela ajuda a encontrar a melhor posição para ficar e quando fazer força. Como li em um texto da internet “é uma dor sábia e amiga; vem e vai como uma onda, oferecendo um tempo abençoado para respirar e para descansar até o próximo mergulho”.
O livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra” diz que o parto é chance de mulher olhar para tudo o que foi colocado para debaixo do tapete ao longo da vida. O parto não é uma enfermidade a ser curada. O parto é uma passagem para outra dimensão, é passar de um estágio a outro, é um rompimento espiritual e, como todo rompimento, provoca dor.
É necessário se entregar a esta dor, abraçá-la e aceitá-la.
Para tornar esta dor uma aliada, não se deve lutar contra ela.
Níveis intensos de ansiedade, de medo e a falta de confiança no corpo interferem na contratilidade uterina, alterando o ritmo e a força das contrações do trabalho de parto, tornando-o excessivamente prolongado e doloroso. A internalização das histórias terríveis com relação ao parto, o medo da morte simbolizado pela passagem da vida intrauterina para a extrauterina, a identificação com a imagem da mãe sofredora que padece para dar à luz são fatores que intensificam o medo e contribuem para a tendência a lutar contra as contrações, ao invés de acolhê-las como um novo ritmo do corpo que se prepara para dar ao bebê a passagem para uma nova vida.
Portanto, a dor do parto deve ser encarada como um rito de passagem como, por exemplo, o batismo ou o casamento.
Neste estágio, da dor do trabalho de parto, a mulher precisa de amparo, carinho, compreensão, ambiente tranquilo, silêncio, toque, música, banho de imersão, respirar adequadamente para relaxar a tensão do corpo, vocalizar para colocar para fora seus anseios ou fazer o que ela quiser. Além disso, a atmosfera do contexto domiciliar ou hospitalar e a qualidade do atendimento da equipe são fatores relevantes para a diminuição ou para o aumento do medo em relação ao parto em si e suas dores.
A criação de um ambiente acolhedor tem a finalidade de dar acesso à família ao ato do nascimento de seu novo membro e de criar uma atmosfera propícia ao relaxamento e à tranquilidade emocional. Ao se sentir realmente amparada e bem assistida a mulher tem melhores condições de atravessar a turbulência das contrações com menos ansiedade, menos medo e, consequentemente, menos dor.
Então, como disse a Ana Cristina Duarte, “tem que tentar primeiro entender a dor, como ela é, que tamanho ela tem, que características ela tem e quais são todos os recursos para se lidar com ela: da oração ao banho, das massagens às anestesias”.
É super importante escolher a melhor companhia para esta viagem. É preciso avaliar quem está disposto a observar o seu encontro com a sua sombra cuidando de você e fazendo de tudo para não colocar em risco o sua saúde física ou psicológica. Ajudando a transformar a dor em aliada.
Foto | Bia Takata